Ensino de história afro-brasileira enfrenta dificuldades
Aplicação da lei 10.639 depende de iniciativas isoladas nas escolas
Aplicação da lei 10.639 depende de iniciativas isoladas nas escolas
Em nove de dezembro de 2003, foi promulgada a lei federal 10.639, que institui que todos os estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e particulares, devem incluir em seus currículos o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
No entanto, em grande parte da rede de ensino esta não é a realidade. Tania Portela, assessora da ONG Ação Educativa, defende que “a importância principal (da lei) é explicar a participação da população negra na formação do país; trazer as contribuições pra sair do mito de culinária, folclore, dança e capoeira, e expor que houve também grande contribuição em outras áreas, principalmente, na economia”.
A professora de Educação Infantil e Fundamental, Cristina Maria de Jesus Lima, diz que a maneira como a história dos negros é tratada na escola contribui para o que acontece fora das salas de aula: “dependendo da maneira como é tratada a questão da diversidade, o professor pode auxiliar as crianças a valorizarem suas características étnicas e culturais ou favorecer a discriminação - quando é conivente com preconceitos”. Dessa forma, para ela, a finalidade da lei 10.639 é contribuir para a superação de preconceitos e a aceitação de diferenças, “tomando a instituição escolar como um dos espaços de inserção das crianças nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade, reconhecendo a formação do nosso país por diferentes povos que deram origem ao caldeirão cultural que é o Brasil”.
Deni Ribeiro Prado, professora da rede pública, conta que desde que começou a lecionar, há oito anos, procurava abordar aspectos positivos da África, porém, com muita dificuldade e pouco material. Hoje, ela trabalha com temáticas variadas como: “os diferentes reinos e grupos étnicos, a localização, a importância da oralidade, a religião - com ênfase no respeito aos mais velhos - e as diferentes abordagens com relação à ancestralidade. Outro aspecto que tem me fascinado é a arte, com destaque às máscaras e sua simbologia, lembrando que a arte na África deve ter uma utilidade”.
O professor Rodrigo Ciriaco, também do ensino fundamental público, compartilha da opinião dos demais e acrescenta que “falta uma melhor organização para falar da História da África; que não seja apenas contextualizando com outro assunto, mas que aborde sua própria história. Sinto falta disso nos livros didáticos e no planejamento curricular, onde definimos os temas a serem abordados ao longo do ano”, afirma Ciriaco.
Cristina afirma que “a falta de materiais didáticos sobre o tema é grande, e mesmo os que têm devem ser selecionados e analisados”. Para a professora Mighian Danae Ferreira Nunes, “esse é um problema central da escola pública brasileira. A escassez de recursos tem uma relação direta com o grupo que é atendido nestes espaços. O poder público acredita que não é preciso investir na educação das classes proletárias, já que imaginam que eles serão, em sua maioria, apenas prestadores de serviços das classes privilegiadas”.
A técnica de história da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Maria Margarete Santos, confirma que a lei não teve grande alcance entre as escolas e pontua quais são os problemas: “As dificuldades observadas dizem respeito à necessidade de formação e disponibilização de materiais para toda a rede, pois, por mais esforços que venhamos a fazer, ainda levaremos um bom tempo para amparar o trabalho dos professores e proporcionar formação e orientações a uma rede de ensino do tamanho da nossa”.
Prêmio Educar para a Igualdade Racial
No dia 18 de setembro deste ano, Mighian Danae recebeu o “Prêmio Educar para a Igualdade Racial”. Seu projeto “Brasiláfrica” foi o vencedor da categoria Professor Ensino Fundamental, implementado na escola em que leciona, por meio de atividades como gincanas, jogos e oficinas, visando à desconstrução de estereótipos sobre o negro e sua história. “De um modo geral, os alunos estão sempre abertos para conhecerem, discutirem, inferirem e produzirem conhecimento. Não há resistência a nenhum tema ou atividade, quando a mesma faz sentido para as crianças”, explica Danae.
O prêmio foi criado em 2002 e encontra-se na 4ª edição. É organizado pelo Ceert – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade – e busca premiar e incentivar projetos educacionais desenvolvidos por professores ou escolas, a fim de combater preconceitos raciais e valorizar o negro na sociedade brasileira.
2 comentários:
O CEERT lançará dia 17/11 a Rede Educar para a Igualdade Racial.
Em comemoração ao mês da Consciência Negra, o CEERT preparou uma ação especial: Lançamento da Rede Educar para a Igualdade Racial. Esta Rede pretende estabelecer um diálogo entre e com professores interessados em práticas de promoção da igualdade racial, com intuito de promover formação e troca de experiências tanto da ação pedagógica, quanto da institucionalização destas práticas, contribuindo para implementação da LDB alterada (leis 10.639/03 e 11.645/08). A ação será em três eventos. O primeiro será realizado em parceria com o Banco Real, já os outros dois em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Confira a programação e inscreva-se pelo site www.ceert.org.br.
O CEERT lançará dia 17/11 a Rede Educar para a Igualdade Racial.
Em comemoração ao mês da Consciência Negra, o CEERT preparou uma ação especial: Lançamento da Rede Educar para a Igualdade Racial. Esta Rede pretende estabelecer um diálogo entre e com professores interessados em práticas de promoção da igualdade racial, com intuito de promover formação e troca de experiências tanto da ação pedagógica, quanto da institucionalização destas práticas, contribuindo para implementação da LDB alterada (leis 10.639/03 e 11.645/08). A ação será em três eventos. O primeiro será realizado em parceria com o Banco Real, já os outros dois em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Confira a programação e inscreva-se pelo site www.ceert.org.br.
Postar um comentário